segunda-feira, 22 de maio de 2006

Se você quiser
Saber o que sou
Escute o que não falo
Escute quando eu calo
Não me ouça falar.
Ouça os meus olhos
Veja nos meus gestos
E assim
Decifrará
O meu enigma
E peço
Não espalhe
Aos quatro ventos
O meu lado
Mais secreto:
O silêncio
É o segredo
Do sucesso!
É o medo
Que me faz
Ficar assim...
Tão só
Dentro de mim
É a falta de vontade
Que me faz
Olhar prá trás
E ver então
As armadilhas
Em que a vida
Me prendeu
E que ainda
Se refletem
Neste mundo tão igual
Sempre os mesmos
Sonhos fáceis
Sempre os mesmos
Personagens
As respostas
Sempre prontas
As perguntas
Que não mudam...
Explicar o inexplicável
É o mesmo
Que calar.
O teu olhar
Tem a cor
Do mar
Tem a cor
De um amor
Que eu não posso alcançar
Tem a cor
De uma saudade
Que eu não sei
Como explicar.

Quem dera eu tivesse
Prá minha vida iluminar
Tão somente um pedacinho
Desse...
Desse teu olhar
Teu olhar
Teu olhar
Os sons
Das sombras
Na janela do quarto
São ecos errantes
De um distante
Passado
Despertam rumores
De amores
Fadados
Às sombras
Eternas
De um distante
Passado.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Nas clareiras
Das janelas
Que se abrem
Pela noite
A sonhar
Nas passarelas
Desgastadas
Da cidade
Olhos brilham
Vozes cantam
Tudo em nome
Da alegria
Lua cheia
Outro dia
Outra noite
Vai cair
Claridades
E penumbras
- artifícios -
Não se engane!
Nem tudo
Hoje em dia
Se co(nso)me!
Acontece
Hoje é festa
Amanhece
Tudo fica
Extasiado
E se explica
Num sorriso
Que não fala
Só complica.
O mar vaga
A esmo
Na areia
Varrendo as conchas
E as sereias
Que choram
Suas lágrimas
Peroladas
E deixam
Seus cabelos
Verdes algas
Num mágico balet
A flutuar
Sobre as águas...
Dêmonios
Enclausurados
Natureza
Incandescente
Seduz o
Escorpião,
Inteiramente.
Nossas almas
Gêmeas
Mudas
De espanto
Tanto
Faz agora
Quem fala e quem cala
De quem são os móveis
Ou quem vai prá sala
As diferenças
São nossas balas
Que ferem à esmo
As vidas partidas
A louça quebrada
E as almas
Tão gêmeas
Agora
São nada.
A pétala
Da flor
Iridescente
Brilha branca
Na palma
Da tua
Mão.
Ah! Se eu pudesse
Apagar as tuas mágoas
Curar as tuas dores
Te ninar como criança
Ah! Se eu pudesse
Adivinhar os teus desejos
Ler a tua alma
Vislumbrar na escuridão
Do teu olhar
Alguma chama escondida
Ah! Se eu pudesse
Embalar teu sono
Te dar meus sonhos
Ah! Se eu pudesse...
O vento soprando nas copas
Difícil ver o mar, viu?
O vento soprando nas copas
Difícil ver o mar, viu?
O vento soprando a saudade
não custa a voltar, viu?
O vento soprando a saudade
não custa a voltar, viu?
Na minha mente dançam figuras
Esboços de sonhos passados
Imagens tuas e minhas
Se confundindo nas folhagens
A voz do tempo
Sussurra frases
E eu me perco
Em versos desbotados.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Eu sou o escorpião
Estou quieto, estou livre
Imerso em meus sonhos
Em meu mundo
Não me toque
Não me desperte
Não me procure
E se o fizer
Aceite as conseqüências
Do meu renascer.
Já se passaram
Tantos anos...
Sempre os mesmos planos
Nossas raízes
Se espalham no tempo
E não morrem
Jamais.
Às vezes hesito
Entre a verdade e a mentira
Entre o certo e o errado
Entre o ter e o não ter
Às vezes imito
A alegria ou te deixo
Em algum lugar da memória
Para achar outro dia
Às vezes tenho a verdade
E minto...
Há certas lembranças
Que faço questão
De guardar.
Blues III

O blues vem da tristeza
Embebendo as almas
Os olhos encharcados
Os rostos silenciosos
Dos bares mal afamados
Pessoas vagando soltas
E o blues se espalhando...
Pelo corpo
Pelos olhos
Através da pele
A magia fluindo
Num pensamento azul.

O blues é um vagabundo errante
E somos todos viajantes
Sob a lua
Pelas ruas
Nas esquinas
De um planeta blues...
Pela terra nua
Tua sombra, sempre tua
Acaricia meu olhar
Quero viver o momento
Saber o teu pensamento
Abraçar o teu sorriso
E ficar para sempre
Neste doce mistério
Do ser, enquanto durar...

terça-feira, 2 de maio de 2006

Te vejo como a chuva
Nesta tarde fria
Sozinho
Na sala escura
Entre verdes e azuis
Na luz difusa
Das cortinas fechadas
Teu corpo dorme
E te afago com o olhar
Deixo ali as tristezas
Que tu não vês...
Um leve beijo
Passou por mim
Nesta tarde cinza
Marquei meus passos
Na calçada
Recitei meu adeus
Na rua molhada
E era apenas uma imagem
Que deixei marcada:
A nossa presença
Um suave sonho
Na madrugada.
Tenho vivido
Meio morta
Meio sem me importar...
Pelos caminhos que iam
Pelos que me queriam
Que me chegavam
E partiam
Por vezes, me sentia
nestas tardes cinzentas
Vazia
E esquecia
Que todas as vezes
Por onde passo
Perco um pedaço
E levo você.
Esta dor suave
que me invade
é simplesmente
saudade!
A noite vem suave
caindo sobre meus olhos
sobre teu quarto
A penumbra que te cobre
como um manto
para que durmas
sem culpas
E eu me vou
como uma breve presença
sem que percebas
meu beijo
ao te deixar...
Tua presença me toca
Olho a rua morta
e a chuva leva meus passos
No ar cinzento deixo
Tua suave solidão.
Mudos apelos cortam o ar
Ouvidos surdos tentam ouvir
Das frases de angústia
As flechas que ferem ao chegar
Bocas escancaradas choram de dor
Olhos abertos exprimem pavor
e as mãos crispadas num bruto temor
Tentam rezar por um pouco de paz
Monstros caídos, robôs que caminham
Debaixo das ruínas, sobre os destroços
Sentem a aflição que não podem dizer
Só podem mostrar
Por mudos apelos que cortam o ar...
Vidas negras de templos errantes
Profundezas da alma que o tempo entalha
Trazem a mensagem do amor
Sofrido e distante
Daqueles que como elas se espalham

Das cavernas úmidas e geladas
dos pingentes de gelo que se formam
Saem as essências sagradas dos rituais
Escondidos por grades e roseirais

Talvez, quando o oxigênio se esgote
E as almas (hoje boas) percam sua luz
O ideal seja a água no pote
Em vez dos cálices que a sociedade conduz

E a vida será dos condenados
Que hoje morrem de fome
E moram na teia de aranha
Que os consome

Vivem pacientes e resignados
porque sabem que chegarão os seus dias
De tétrica e grande folia...
Gritos de aves ecoam no oriente
Aves insatisfeitas pousam no ocidente
No oeste a luz é muita
No nordeste a vida é pouca
Os edifícios da cidade
Mostram suas paredes nuas
E numa janela qualquer
Uma alma ecoa no vazio
Um ser insatisfeito pousa em outro mundo...

Lá dentro a luz é pouca
Lá dentro a fome é muita
As ruas da cidade refletem
as poças d'água no asfalto
E num quarto qualquer
Um grito corta o silêncio...