sexta-feira, 28 de abril de 2006

Blues II

O blues é como a noite
Embebendo as ruas
As sombras encharcadas
Os passos silenciosos
Ecoando nas calçadas
Estrelas vagando soltas
E o azul se espalhando...
Pelo corpo
Pelos olhos
Através da pele
A magia fluindo
num pensamento azul...
Descubro
As verdades tuas
Que tu me falas
em frases nuas
Despidas de medo ou fantasias
São apenas verdades
Azuis ou vazias...
Morrer de tédio, quem sabe
Por um momento de solidão
depois de tudo
E o renascer a cada dia
Sem sentir que a vida
começou outra vez.
A volta para o mundo interior
do sonho e do impossível,
ao mesmo tempo que a saída
do insuportável vazio.
O vácuo eterno
concebido pelo tempo
que se perdeu sem querer
em todos os anos da vida.
Tempo imutável
e para sempre
de silêncio
absoluto.
Nas fases da lua
Procuro o teu olhar
Por entre estrelas meninas
E pedaços de luar.
Minha vida não é minha
Padeço o inferno das horas
Sem ajuda, sem perdão
Faço o que não quero
E talvez me arrependa
Está comigo
E mesmo assim é vazia.
Se arma o tempo
E o roxo das nuvens
Escurece o verde
As árvores mortas
E geladas
Se curvam
O vento desliza
E corta a noite
E uiva sozinho
Perdido na terra.
Rabisco teu nome
com letras magoadas
e pela janela
pássaros choram
a tua ausência...
Não me olhe
Como se pedisse
Minha compreensão
Do que é uma vida
Do que somos nós
Ou do que
Poderíamos
Ter
Sido...
Sempre que tiveres um sonho
Me chama
E ao teu encontro irei
Como as águas entre a areia
Estarei em tua
Imensidão...

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Há mil tons
na poesia
Que faço
Envolta em sons
Tua melodia abraço
Palavras soltas
Soam no ar...
Há mil tons
De se amar.
Lava os meus olhos
Das noites mal dormidas
Da tua poesia
E das canções
Que ouvimos juntos
Agora
Subentendemos os sorrisos
e as lágrimas.
Busco alguma coisa
Que me dê sentido
Disfarço mágoas
Abandono o riso
Invento mentiras
Prá não quebrar o encanto
E tu me deixas assim,
Perdida...
E muda te percebo
Em meu próprio espanto.
Sombras ainda me devolvem o passado
Suave brilha a estrela
Voando mais livre e mais só
Tempo perdido
Que penso encontrar na manhã
Sonho esquecido:
Teu nome solto no vento...
Não ligues! Apenas invento.
Mas quem me diz
Que é maior e mais forte
Se há tantas estrelas no céu
Se há tantas flores se abrindo
E você me manda calar?
Se em cada olhar há um grito
Em cada força, um mundo
Em cada dor, um começo
e em cada amor
uma esperança...

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Somos inquietos viajantes
No rumo das incertezas
Dos mundos em colapso
Das mentes em confusão
O grito de paz dissolveu-se no ar
A flor do amor esqueceu de brotar
E nas mentes, escondidas
As canções dos poetas...
Rasgar a carne
Ferir a fera
Da inconsciência
Que marcha plena
Em cada gesto
Em toda palavra
Que falo às vezes
Chamo a chuva
Torno-me líquido
Caio em pingos
Em transparência
Lavo o verde
Torno-me luz.
Afasta a mão que te oprime
Nas noites de liberdade
Em que queiras ser mais
Do que já foste um dia
Nas noites em que queiras
Seguir o impulso e o desejo
Não somente a razão
E segue o rastro claro
Da estrela dos teus olhos
E deixa brotar esta idéia
no fundo do coração.
Em cada gruta esquecida
Em cada floresta nascida
Do medo de viver
E da prisão escura
Dos que não alcançam a luz
Brota um grito agudo
Que ecoa em todo o céu
E até a lua chora
Por aqueles que lá estão.
Meus gestos perdidos
Acordam aves
Acordam árvores
Acordam rios

Pássaros no céu ecoam
Com gritos tristes
E eu, pessoa
Menor que eles
Vivendo em círculos
Atrás da vida

Não como as aves
ou como as árvores
Não como os rios
Mas como areia
Pedra sofrida
Num mar sem fim.
Estrelas, pensamentos
Distâncias infinitas
Entre o verde das colinas
E o fundo dos teus olhos.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Somos como pontes
Ás vezes gastas
Que atravessam anos
Que atravessam vidas
Mas que na mudança das águas
Permanecem eternas
Na sua essência
E os astros que nos vigiam
Do céu, da escuridão
Nos guiam sempre pelos caminhos
do vento frio, da solidão
Até o sol (tristezas findas)
Que é o fim da travessia
O outro lado das nossas vidas.
Alguém quer ser
aquilo que o deixarem.
Algo mais que um pensamento,
qualquer coisa
do momento,
no crepúsculo amarelo
do teu eu em agonia:

"Deixe ser,
deixe viver,
deixe brotar
o amor."
Raízes secas
Na escuridão das cavernas
Abertas a faca
No coração do ser
Este é o sentimento
Ilusão de quem vive
Voltado para o que nunca existe
e que se chama amor
E as feridas não calam
Presumem-se vivas
E secam sem cura.
Somos água
Somos sal
Até o fim do amor
Somos irmãos também
E se brilhar
A fé em nós
A luz ficará
Em teus olhos
E nos meus
Tudo brilhará
Decifro o inesperado
no ar
no eco
no fundo escuro
sons acordam passos
na madrugada
invento sonhos
mastigo lágrimas
adormecidas
fecho os olhos
escuridão
Anjo triste,
cadê tua lágrima rolada
pelo tempo passado em claro
nos quartos da memória
por ti somente violados?
No rumo da solidão,
caminho brotado do nada
- o mundo interior
em que habita teu ser.
O luar pousa na pedra.
Pássaro branco, em lento encanto
se põe a contar:
a vida, o mar, estrelas perdidas...
Na inconstância do desejo
arrebato a imagem:
nos dedos, contos de luar...
Se em cada canção há um tempo
E em cada tempo, um amor
Se o perdão não existe
Não tem poder de parar
A razão que te guia
não me influencia -
vira poesia.
No paraíso do teu corpo
Caminhar entre folhagens
Beber água em teus cabelos
E ser nova com teu ar
Minha vida - dela é o corpo
Que toma por medida
Esta suave solidão.
Blues I

O blues é como a noite
cheia de estrelas soltas
a passar despercebida
e o azul se espalhando...

Pelo corpo
pelos olhos
através da pele...

A magia fluindo
num pensamento azul.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Dá um tempo aos meus olhos
Não invente covardias
Dá um tempo, seja leve
Reinvente, se construa
Dá um tempo, desconcentre
Beba estrelas, veja a rua
Dá um tempo aos meus sonhos
Vire noite, vire lua...
Lágrimas, lavem meus olhos
destas visões incandescentes,
destes fantasmas fugidios
que me envolvem
como em sonhos.
Me deixem ficar vadio
entre árvores e flores
como olhos transbordantes
de vertentes ao luar.
Escrevo rápido
como se perdesse a essência
ao pensar demais.
Durmo idéias na noite
enquanto os astros
resolvem o meu dia.
Penso em cometas
e viajens noturnas
quando caio no abismo
dos olhos fechados.
4.
(Num instante assumo o que sou
e já não o sou mais,
porque o já não dura,
é presente e passado...)

Persigo sonhos
viro astros
procuro o espaço
que me dá alento

Enquanto arde a chama
vamos devagar
por um mundo de sombras
e luzes artificiais.
3.
Viajo ao teu lado
na linguagem do teu corpo,
como um mar
que leva em ondas
tudo que há ao redor...

Os versos repousam na gaveta
e hoje, mais do que nunca
brotam flores das palavras.
Vejo folhas nas calçadas
e esquinas onde habito
como planta, ora solta
se espalhando pelo chão.
Reencontrar
Na rotina de uma noite
Tua lembrança
No desconhecido
De uma vida
O teu sorriso.
...
E quando você
Não estiver mais aqui,
Eu serei apenas uma metade
Perdida no mundo
E com medo de tudo.