terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Musical Saracura I




FLOR

Flor
Que desabrocha no sertão
Tem que ser toda como areia
Que vive ao seu redor
Constante sol
Ou então, vai ser mais uma só
Mais uma só, mais uma só...

(Nico Nicolayewski/Sílvio Marques)


TODA MOÇA

Toda moça da cidade
Leva dentro um fogo
Que arde
Molha os olhos na fumaça
Dos amores passageiros
Nó na língua, dor no peito.

Entre anzóis e moços lindos
Carretéis, ruas, estradas
Toda moça tem vontade
De ser mulher de madrugada.

(Sílvio Marques/Orlando Nascimento)


Dei um tempo nas minhas poesias para publicar estas letras. Estou saudosista! Este fim de semana relembrei uma época ótima de Porto Alegre, musicalmente falando. Esta é uma música linda de um grupo daqui que alguns nem devem conhecer, pois fez sucesso nos anos 70/80. Chamava-se Musical Saracura.

O disco em vinil leva o nome de Saracura, e foi gravado no período de abril/agosto de 82, pela ISAEC/POA, com produção de Aires Potthoff.

Tem músicas que são clássicas como Tango da Mãe, Nada Mais e Marcou Bobeira, de Cláudio Levitan. As melhores, prá mim são todas as do lado B: Toda Moça (Sílvio Marques e Orlando Nascimento) é linda, e junto com Flor, Nada Mais e Marcou Bobeira fecham o disco.

Como prometido, as fotos da capa e contra-capa do meu vinil, devidamente autografado por todos da banda, Sílvio Marques, Nico Nicolayewski, Fernando Pezão, Zé Flávio, Chaminé, mais De Santana na percussão!

Procurei na Internet alguma foto ou outras informações da banda e não achei, por isso resolvi colocar aqui.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

O Ederson pediu, tá aí... Mais uns escritos guardados na gaveta...
A alma
Desarmada
Ama
Desalmada
Mata
Desamando
Ata
Ao seu ser
As linhas
Que o destino
Traça.
Raia
Ilumina
Bebe
Água-viva
Lava leva
No olhar
Piscina
O verde
No mar
Da retina...
Tudo o que eu faço
Tem um significado
Gesto, olhar, presente, cor
Tudo que eu digo
Tem duplo sentido
As palavras
Que aliciam
E entregam
O que quero
Para quem sabe
Entender.
A voz
Palavra
Vida que passa
Pensamento
A lâmina breve
Da vontade
Rasga
O vento.
O que passa
Na cabeça
Dessa gente
Displiscente
Que trabalha
Como escrava
E sorrindo
Vai prá casa
Apesar
De não ter nada
Prá comemorar?

O que passa
Na cabeça
Dessa massa
Desvalida
Que não sabe
Como vai
Subir na vida
Sem escola
Sem dinheiro
E sem lugar?

O que passa
Na cabeça
De quem pensa
E se senta
Numa mesa
E só inventa?
Que cercado
De riquezas
Se dispõe
A assinar
Condenando
O futuro
Dos que não
Sabem
Falar.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

O pêndulo
De um relógio
Inexistente
Bate as doze
Badaladas
No meu coração
E eu
Feito um zumbi
Descrente
Parado em frente
Ao teu portão
Espero paciente
Ver teu rosto
Ausente
Flor
Na escuridão.
Eu não quero
Sexo
Eu não quero
Nexo
Quero apenas
Tua mão na minha
Mão
Eu não quero
Nada
Eu só quero
Tudo
Teu amor
E a minha
Solidão

Solidão que existe
Solidão que insiste
Muito embora
Tu não acredites
Eu
Te digo
Não...

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Oito coisas?

Sou meio assim
Contraditória
Sempre do contra
Adoro ou odeio
Neurótica
Esotérica
Realista
Utópica
Descrente com fé...

Quem quiser saber a causa desse poeminha desvairado, veja o blog da Grazi... (http://graziana.blogspot.com/)
Ela é a culpada!

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Ah! Rosa
Onde tal delicadeza
Senão quando tuas pétalas
Macias me invadem
E me mostram
Tua alma misteriosa?

Ah! Rosa
Onde mais esse perfume
Que me envolve
E me deixa
Extasiada quando toco
Tua carne aveludada e saborosa?

Ah! Rosa
Que tormento mais fugaz
Quanto mais doce?
Teus espinhos quando ferem minha pele
São apenas tuas carícias mais fogosas!

Ah! Rosa, minha Rosa
A mais doce inspiração
É a que vem sempre de ti
E o que me falta confessar
Em minha ânsia
Não completo
E para amar, em minha dor
Eu te liberto!
Verdade
Ver o dado
Velado
Ver um lado
E o outro lado
Verter
O saber
Subverter
O sabido
Ver
Ter
Conhecer
Ser
Fria como o gelo
Estátua de cristal
Espera, a tua sombra
Na noite invernal
Secar as minhas lágrimas
Para que teus pés suaves
Na madrugada
Te levem para casa
Na rua congelada
Deixando meus sonhos
Estilhaçados na calçada.

sexta-feira, 7 de julho de 2006

-ET's-

Um sonho apenas:
Minhas unhas azuis
Nas tuas antenas.

Meus dedos
Tão finos
De leve pousados
Nos teus
Macios e longos
Braços rosados.

Teus olhos imensos
De um verde-dourado
Procuram os meus
(Azul-desbotado)
Num brilho sagrado
Disparam um raio:
Estamos casados!
A nave vai...
Navalha na veia
O sangue e o sol
A vala comum
Dos sonhos
Onde navega
O teu ser
Estar só não serve
Quem não sabe
Não vê...
Luz da delicadeza
Cor que o cristal traduz
Sol que meus olhos captam
Lente para o infinito
Céu de um azul exato
Onde estaria escrito?
Neste poema vago
Teu nome
Surge
Em negrito.
A nossa viagem
Começa no olhar
No brilho secreto
Que invade um sorriso
Nos códigos mudos
De nossos gestos
Abraços que escondem
Nas suas nuances
O que não queremos
Sentir ou pensar
Na nossa viagem
Por dentro da alma
Trocando impressões
Nos toques dos dedos
Qual leve instrumento
Que mede um desejo
Que mesmo inconfesso
Se sente no ar
A nossa linguagem
Que vai muito além
Do que nossos corpos
Nos ousam mostrar.

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Na minha inércia
Procuro desvendar
Tua fala
Nas minhas tramas
Procuro te enredar
Feito aranha
Na teia
Espero
Pelo teu gesto
Para então aprisionar-te
Pôr veneno
Em tua veia
Paciente
Envolver-te
Para sempre...
Eu tenho medo
Eu sei
Das mentiras
Que não prestam
Das verdades
que libertam...
Eu tenho medo
de falar, calar,
ousar, disfarçar...
A solidão me atrai
E o resto só me faz
Não querer mais.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Se você quiser
Saber o que sou
Escute o que não falo
Escute quando eu calo
Não me ouça falar.
Ouça os meus olhos
Veja nos meus gestos
E assim
Decifrará
O meu enigma
E peço
Não espalhe
Aos quatro ventos
O meu lado
Mais secreto:
O silêncio
É o segredo
Do sucesso!
É o medo
Que me faz
Ficar assim...
Tão só
Dentro de mim
É a falta de vontade
Que me faz
Olhar prá trás
E ver então
As armadilhas
Em que a vida
Me prendeu
E que ainda
Se refletem
Neste mundo tão igual
Sempre os mesmos
Sonhos fáceis
Sempre os mesmos
Personagens
As respostas
Sempre prontas
As perguntas
Que não mudam...
Explicar o inexplicável
É o mesmo
Que calar.
O teu olhar
Tem a cor
Do mar
Tem a cor
De um amor
Que eu não posso alcançar
Tem a cor
De uma saudade
Que eu não sei
Como explicar.

Quem dera eu tivesse
Prá minha vida iluminar
Tão somente um pedacinho
Desse...
Desse teu olhar
Teu olhar
Teu olhar
Os sons
Das sombras
Na janela do quarto
São ecos errantes
De um distante
Passado
Despertam rumores
De amores
Fadados
Às sombras
Eternas
De um distante
Passado.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Nas clareiras
Das janelas
Que se abrem
Pela noite
A sonhar
Nas passarelas
Desgastadas
Da cidade
Olhos brilham
Vozes cantam
Tudo em nome
Da alegria
Lua cheia
Outro dia
Outra noite
Vai cair
Claridades
E penumbras
- artifícios -
Não se engane!
Nem tudo
Hoje em dia
Se co(nso)me!
Acontece
Hoje é festa
Amanhece
Tudo fica
Extasiado
E se explica
Num sorriso
Que não fala
Só complica.
O mar vaga
A esmo
Na areia
Varrendo as conchas
E as sereias
Que choram
Suas lágrimas
Peroladas
E deixam
Seus cabelos
Verdes algas
Num mágico balet
A flutuar
Sobre as águas...
Dêmonios
Enclausurados
Natureza
Incandescente
Seduz o
Escorpião,
Inteiramente.
Nossas almas
Gêmeas
Mudas
De espanto
Tanto
Faz agora
Quem fala e quem cala
De quem são os móveis
Ou quem vai prá sala
As diferenças
São nossas balas
Que ferem à esmo
As vidas partidas
A louça quebrada
E as almas
Tão gêmeas
Agora
São nada.
A pétala
Da flor
Iridescente
Brilha branca
Na palma
Da tua
Mão.
Ah! Se eu pudesse
Apagar as tuas mágoas
Curar as tuas dores
Te ninar como criança
Ah! Se eu pudesse
Adivinhar os teus desejos
Ler a tua alma
Vislumbrar na escuridão
Do teu olhar
Alguma chama escondida
Ah! Se eu pudesse
Embalar teu sono
Te dar meus sonhos
Ah! Se eu pudesse...
O vento soprando nas copas
Difícil ver o mar, viu?
O vento soprando nas copas
Difícil ver o mar, viu?
O vento soprando a saudade
não custa a voltar, viu?
O vento soprando a saudade
não custa a voltar, viu?
Na minha mente dançam figuras
Esboços de sonhos passados
Imagens tuas e minhas
Se confundindo nas folhagens
A voz do tempo
Sussurra frases
E eu me perco
Em versos desbotados.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Eu sou o escorpião
Estou quieto, estou livre
Imerso em meus sonhos
Em meu mundo
Não me toque
Não me desperte
Não me procure
E se o fizer
Aceite as conseqüências
Do meu renascer.
Já se passaram
Tantos anos...
Sempre os mesmos planos
Nossas raízes
Se espalham no tempo
E não morrem
Jamais.
Às vezes hesito
Entre a verdade e a mentira
Entre o certo e o errado
Entre o ter e o não ter
Às vezes imito
A alegria ou te deixo
Em algum lugar da memória
Para achar outro dia
Às vezes tenho a verdade
E minto...
Há certas lembranças
Que faço questão
De guardar.
Blues III

O blues vem da tristeza
Embebendo as almas
Os olhos encharcados
Os rostos silenciosos
Dos bares mal afamados
Pessoas vagando soltas
E o blues se espalhando...
Pelo corpo
Pelos olhos
Através da pele
A magia fluindo
Num pensamento azul.

O blues é um vagabundo errante
E somos todos viajantes
Sob a lua
Pelas ruas
Nas esquinas
De um planeta blues...
Pela terra nua
Tua sombra, sempre tua
Acaricia meu olhar
Quero viver o momento
Saber o teu pensamento
Abraçar o teu sorriso
E ficar para sempre
Neste doce mistério
Do ser, enquanto durar...

terça-feira, 2 de maio de 2006

Te vejo como a chuva
Nesta tarde fria
Sozinho
Na sala escura
Entre verdes e azuis
Na luz difusa
Das cortinas fechadas
Teu corpo dorme
E te afago com o olhar
Deixo ali as tristezas
Que tu não vês...
Um leve beijo
Passou por mim
Nesta tarde cinza
Marquei meus passos
Na calçada
Recitei meu adeus
Na rua molhada
E era apenas uma imagem
Que deixei marcada:
A nossa presença
Um suave sonho
Na madrugada.
Tenho vivido
Meio morta
Meio sem me importar...
Pelos caminhos que iam
Pelos que me queriam
Que me chegavam
E partiam
Por vezes, me sentia
nestas tardes cinzentas
Vazia
E esquecia
Que todas as vezes
Por onde passo
Perco um pedaço
E levo você.
Esta dor suave
que me invade
é simplesmente
saudade!
A noite vem suave
caindo sobre meus olhos
sobre teu quarto
A penumbra que te cobre
como um manto
para que durmas
sem culpas
E eu me vou
como uma breve presença
sem que percebas
meu beijo
ao te deixar...
Tua presença me toca
Olho a rua morta
e a chuva leva meus passos
No ar cinzento deixo
Tua suave solidão.
Mudos apelos cortam o ar
Ouvidos surdos tentam ouvir
Das frases de angústia
As flechas que ferem ao chegar
Bocas escancaradas choram de dor
Olhos abertos exprimem pavor
e as mãos crispadas num bruto temor
Tentam rezar por um pouco de paz
Monstros caídos, robôs que caminham
Debaixo das ruínas, sobre os destroços
Sentem a aflição que não podem dizer
Só podem mostrar
Por mudos apelos que cortam o ar...
Vidas negras de templos errantes
Profundezas da alma que o tempo entalha
Trazem a mensagem do amor
Sofrido e distante
Daqueles que como elas se espalham

Das cavernas úmidas e geladas
dos pingentes de gelo que se formam
Saem as essências sagradas dos rituais
Escondidos por grades e roseirais

Talvez, quando o oxigênio se esgote
E as almas (hoje boas) percam sua luz
O ideal seja a água no pote
Em vez dos cálices que a sociedade conduz

E a vida será dos condenados
Que hoje morrem de fome
E moram na teia de aranha
Que os consome

Vivem pacientes e resignados
porque sabem que chegarão os seus dias
De tétrica e grande folia...
Gritos de aves ecoam no oriente
Aves insatisfeitas pousam no ocidente
No oeste a luz é muita
No nordeste a vida é pouca
Os edifícios da cidade
Mostram suas paredes nuas
E numa janela qualquer
Uma alma ecoa no vazio
Um ser insatisfeito pousa em outro mundo...

Lá dentro a luz é pouca
Lá dentro a fome é muita
As ruas da cidade refletem
as poças d'água no asfalto
E num quarto qualquer
Um grito corta o silêncio...

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Blues II

O blues é como a noite
Embebendo as ruas
As sombras encharcadas
Os passos silenciosos
Ecoando nas calçadas
Estrelas vagando soltas
E o azul se espalhando...
Pelo corpo
Pelos olhos
Através da pele
A magia fluindo
num pensamento azul...
Descubro
As verdades tuas
Que tu me falas
em frases nuas
Despidas de medo ou fantasias
São apenas verdades
Azuis ou vazias...
Morrer de tédio, quem sabe
Por um momento de solidão
depois de tudo
E o renascer a cada dia
Sem sentir que a vida
começou outra vez.
A volta para o mundo interior
do sonho e do impossível,
ao mesmo tempo que a saída
do insuportável vazio.
O vácuo eterno
concebido pelo tempo
que se perdeu sem querer
em todos os anos da vida.
Tempo imutável
e para sempre
de silêncio
absoluto.
Nas fases da lua
Procuro o teu olhar
Por entre estrelas meninas
E pedaços de luar.
Minha vida não é minha
Padeço o inferno das horas
Sem ajuda, sem perdão
Faço o que não quero
E talvez me arrependa
Está comigo
E mesmo assim é vazia.
Se arma o tempo
E o roxo das nuvens
Escurece o verde
As árvores mortas
E geladas
Se curvam
O vento desliza
E corta a noite
E uiva sozinho
Perdido na terra.
Rabisco teu nome
com letras magoadas
e pela janela
pássaros choram
a tua ausência...
Não me olhe
Como se pedisse
Minha compreensão
Do que é uma vida
Do que somos nós
Ou do que
Poderíamos
Ter
Sido...
Sempre que tiveres um sonho
Me chama
E ao teu encontro irei
Como as águas entre a areia
Estarei em tua
Imensidão...

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Há mil tons
na poesia
Que faço
Envolta em sons
Tua melodia abraço
Palavras soltas
Soam no ar...
Há mil tons
De se amar.
Lava os meus olhos
Das noites mal dormidas
Da tua poesia
E das canções
Que ouvimos juntos
Agora
Subentendemos os sorrisos
e as lágrimas.
Busco alguma coisa
Que me dê sentido
Disfarço mágoas
Abandono o riso
Invento mentiras
Prá não quebrar o encanto
E tu me deixas assim,
Perdida...
E muda te percebo
Em meu próprio espanto.
Sombras ainda me devolvem o passado
Suave brilha a estrela
Voando mais livre e mais só
Tempo perdido
Que penso encontrar na manhã
Sonho esquecido:
Teu nome solto no vento...
Não ligues! Apenas invento.
Mas quem me diz
Que é maior e mais forte
Se há tantas estrelas no céu
Se há tantas flores se abrindo
E você me manda calar?
Se em cada olhar há um grito
Em cada força, um mundo
Em cada dor, um começo
e em cada amor
uma esperança...

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Somos inquietos viajantes
No rumo das incertezas
Dos mundos em colapso
Das mentes em confusão
O grito de paz dissolveu-se no ar
A flor do amor esqueceu de brotar
E nas mentes, escondidas
As canções dos poetas...
Rasgar a carne
Ferir a fera
Da inconsciência
Que marcha plena
Em cada gesto
Em toda palavra
Que falo às vezes
Chamo a chuva
Torno-me líquido
Caio em pingos
Em transparência
Lavo o verde
Torno-me luz.
Afasta a mão que te oprime
Nas noites de liberdade
Em que queiras ser mais
Do que já foste um dia
Nas noites em que queiras
Seguir o impulso e o desejo
Não somente a razão
E segue o rastro claro
Da estrela dos teus olhos
E deixa brotar esta idéia
no fundo do coração.
Em cada gruta esquecida
Em cada floresta nascida
Do medo de viver
E da prisão escura
Dos que não alcançam a luz
Brota um grito agudo
Que ecoa em todo o céu
E até a lua chora
Por aqueles que lá estão.
Meus gestos perdidos
Acordam aves
Acordam árvores
Acordam rios

Pássaros no céu ecoam
Com gritos tristes
E eu, pessoa
Menor que eles
Vivendo em círculos
Atrás da vida

Não como as aves
ou como as árvores
Não como os rios
Mas como areia
Pedra sofrida
Num mar sem fim.
Estrelas, pensamentos
Distâncias infinitas
Entre o verde das colinas
E o fundo dos teus olhos.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Somos como pontes
Ás vezes gastas
Que atravessam anos
Que atravessam vidas
Mas que na mudança das águas
Permanecem eternas
Na sua essência
E os astros que nos vigiam
Do céu, da escuridão
Nos guiam sempre pelos caminhos
do vento frio, da solidão
Até o sol (tristezas findas)
Que é o fim da travessia
O outro lado das nossas vidas.
Alguém quer ser
aquilo que o deixarem.
Algo mais que um pensamento,
qualquer coisa
do momento,
no crepúsculo amarelo
do teu eu em agonia:

"Deixe ser,
deixe viver,
deixe brotar
o amor."
Raízes secas
Na escuridão das cavernas
Abertas a faca
No coração do ser
Este é o sentimento
Ilusão de quem vive
Voltado para o que nunca existe
e que se chama amor
E as feridas não calam
Presumem-se vivas
E secam sem cura.
Somos água
Somos sal
Até o fim do amor
Somos irmãos também
E se brilhar
A fé em nós
A luz ficará
Em teus olhos
E nos meus
Tudo brilhará
Decifro o inesperado
no ar
no eco
no fundo escuro
sons acordam passos
na madrugada
invento sonhos
mastigo lágrimas
adormecidas
fecho os olhos
escuridão
Anjo triste,
cadê tua lágrima rolada
pelo tempo passado em claro
nos quartos da memória
por ti somente violados?
No rumo da solidão,
caminho brotado do nada
- o mundo interior
em que habita teu ser.
O luar pousa na pedra.
Pássaro branco, em lento encanto
se põe a contar:
a vida, o mar, estrelas perdidas...
Na inconstância do desejo
arrebato a imagem:
nos dedos, contos de luar...
Se em cada canção há um tempo
E em cada tempo, um amor
Se o perdão não existe
Não tem poder de parar
A razão que te guia
não me influencia -
vira poesia.
No paraíso do teu corpo
Caminhar entre folhagens
Beber água em teus cabelos
E ser nova com teu ar
Minha vida - dela é o corpo
Que toma por medida
Esta suave solidão.
Blues I

O blues é como a noite
cheia de estrelas soltas
a passar despercebida
e o azul se espalhando...

Pelo corpo
pelos olhos
através da pele...

A magia fluindo
num pensamento azul.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Dá um tempo aos meus olhos
Não invente covardias
Dá um tempo, seja leve
Reinvente, se construa
Dá um tempo, desconcentre
Beba estrelas, veja a rua
Dá um tempo aos meus sonhos
Vire noite, vire lua...
Lágrimas, lavem meus olhos
destas visões incandescentes,
destes fantasmas fugidios
que me envolvem
como em sonhos.
Me deixem ficar vadio
entre árvores e flores
como olhos transbordantes
de vertentes ao luar.
Escrevo rápido
como se perdesse a essência
ao pensar demais.
Durmo idéias na noite
enquanto os astros
resolvem o meu dia.
Penso em cometas
e viajens noturnas
quando caio no abismo
dos olhos fechados.
4.
(Num instante assumo o que sou
e já não o sou mais,
porque o já não dura,
é presente e passado...)

Persigo sonhos
viro astros
procuro o espaço
que me dá alento

Enquanto arde a chama
vamos devagar
por um mundo de sombras
e luzes artificiais.
3.
Viajo ao teu lado
na linguagem do teu corpo,
como um mar
que leva em ondas
tudo que há ao redor...

Os versos repousam na gaveta
e hoje, mais do que nunca
brotam flores das palavras.
Vejo folhas nas calçadas
e esquinas onde habito
como planta, ora solta
se espalhando pelo chão.
Reencontrar
Na rotina de uma noite
Tua lembrança
No desconhecido
De uma vida
O teu sorriso.
...
E quando você
Não estiver mais aqui,
Eu serei apenas uma metade
Perdida no mundo
E com medo de tudo.